MANUEL PINTO COELHO
Médico, doutorado em Ciências da Educação
Tem
tanto de extraordinária como de caricata a histeria que vai por esse mundo por
causa da “catástrofe” provocada pelo vírus Ébola.
A
imprensa internacional fala de 1229 mortos entre Março e Agosto de 2014. Ora
bem, se consultarmos a página da OMS sobre este assunto, veremos que na
realidade foram 788 os casos de óbito formalmente identificados como causados
pelo vírus Ébola, um número bem inferior aos 1,2 milhões de mortes causadas
pela malária (paludismo). O número remanescente limitou-se a traduzir os casos “suspeitos”
ou “prováveis”.
As
imagens televisivas com que fomos recentemente presenteados, mostrando-nos técnicos
de saúde, quais marcianos envergando complexas máscaras junto de doentes
suspeitos, são totalmente insensatas e dignas de um mau filme de ficção científica.
É importante
saber-se que o vírus Ébola não se transmite com facilidade. Para haver
transmissão do vírus, tal como acontece com o vírus da SIDA - o VIH - é necessário
um contacto direto com um líquido biológico do doente, como o sangue, as fezes
ou o vómito.
O vírus
Ébola é sobretudo perigoso quando mal acompanhado. Como os doentes infetados
morrem de desidratação ou de hemorragias, então o tratamento consiste
logicamente na hidratação e/ou transfusão sanguínea, e não na administração de
uma qualquer vacina ou hipotético medicamento.
Como
a solução contra a epidemia consiste essencialmente em respeitar medidas
simples usando o bom senso - higiene, boa nutrição, vitaminas C e D nas doses
adequadas -, a verdadeira prioridade nos países tocados pelo flagelo, deveria
ser criar infra-estruturas médicas de forma a fornecer aos doentes os cuidados
médicos de base.
Seria
bom que se soubesse que não há qualquer transmissão por via aérea, ou seja,
quando uma pessoa fala ou tosse, não vai espalhar o vírus pelo espaço aéreo
circundante.
Assim
sendo, ao contrário da ideia com que se fica pela leitura da imprensa, não
existe qualquer razão para recear que o vírus Ébola se possa transformar numa
pandemia à escala mundial.
Semear
o pânico pode ser um negócio muito lucrativo que importa desmontar. Veja-se o
que se passou ainda recentemente (2005) com a “pandemia eminente” da “gripe das
aves”. Através da sábia manipulação da opinião pública, a consequência foi uma
totalmente desnecessária vacinação em massa da população com o consequente
enriquecimento de alguma indústria farmacêutica por um lado, e esvaimento dos
cofres públicos em muitos milhares de euros em vacinas usadas e… não usadas,
por outro. O antiviral “milagre” Tamiflu limitou-se tão-só a reduzir a duração
dos sintomas em menos de um dia, sem conseguir limitar minimamente as
hospitalizações.
Os títulos
sensacionalistas martelados por alguma imprensa nas últimas semanas não fazem
qualquer sentido. Importa que não nos deixemos submergir pela informação
viciada e pela mentira. A reação totalmente excessiva face a este problema
corre o risco de provocar uma catástrofe humanitária de dimensões bem
superiores à provocada pelo próprio vírus Ébola. A medida tomada recentemente
pelo governo da Serra Leoa, que interditou o albergue e os cuidados dados a
estes doentes – única forma de os salvar -, mimoseando com a pena de dois anos
de prisão os seus infractores, bem como uma outra tomada pelo governo da Libéria,
ordenando aos soldados que atirassem a matar sobre as pessoas que procurassem
passar a fronteira como forma de impedir a propagação da epidemia, é inacreditável.
O mito dum passageiro africano infetado pela doença, no avião, que poderia
infetar o país europeu onde desembarcasse é da mesma forma totalmente
irrealista e traduz uma total ignorância sobre a realidade do vírus Ébola. À semelhança
do que se passou com a “gripe das aves” importa não enviar camiões de vacinas
ou medicamentos para África ou para onde quer que seja. Tal servirá unicamente
para enriquecer alguns laboratórios farmacêuticos.
A
psicose informativa vigente, reprimindo as populações e isolando dezenas de
milhares de infelizes criaturas, homens, mulheres e crianças, postos em
quarentena na Libéria com medo dum contágio que nunca acontecerá se não houver
contacto direto com os líquidos orgânicos do portador da doença, tem de ser
urgentemente desmontado e desmascarado.
Não
podemos aceitar a reedição dum negócio das arábias à custa da boa fé ingénua e
da desinformação do incauto cidadão