Editado na segunda-feira da semana passada, o novo álbum dos Xutos & Pontapés, entrou directamente para o primeiro lugar do top nacional por vendas na ordem das cinco mil unidades. O álbum tem sido comentado nos últimos dias pelo facto de conter uma canção, “Sem eira nem beira”, com uma letra que tem sido transformada num manifesto crítico ao primeiro-ministro José Sócrates. (PUBLICO on line 15.04.2009 - 17h00)
quinta-feira, 23 de abril de 2009
quinta-feira, 16 de abril de 2009
A sabedoria de Eça de Queirós
Em 1879, Eça redige de um fôlego "O Conde d'Abranhos", que apenas seria postumamente publicado (1925) e que constitui a sua mais contundente crítica romanceada da intriga política constitucional. (O editor chegou a propor que se publicasse sem indicação de autoria.) É o romance que mais directamente corresponde à crítica institucional das primeiras 'Farpas': concentra de um modo particularmente sarcástico um conjunto de traços satíricos que, diversamente doseados, se distribuirão noutras obras por vários figurantes do carreirismo político ou burocrático.» (A. J. Saraiva e Óscar Lopes, em " História da Literatura Portuguesa")
Embora este não seja um romance convencional, a sua leitura é sempre aconselhável pela sua actualidade constante.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
O SACO AZUL
por Luísa Ramos
O saco azul continha uma lufada de ar fresco. Daniel passava com ele pela várzea, julgando que levava lá dentro milho para as mais de setenta galinhas pertença da capoeira de sua mãe, mas era falso. O que ele transportava era aquele pó branco, mortífero que o Dr. Sócrates, o médico da aldeia lhe pedira que levasse até ao alçapão da quinta.
Daniel transpôs a cerca eram precisamente 19 horas. A tarde era de um Agosto quente e o rapaz sentia-se em simbiose com a natureza: feliz, radiante talvez, por ter sido capaz de trazer até ali, aquele saco azul com tanta comida para muitos dias. Agora na sua capoeira - e por graça do senhor doutor - as aves não teriam mais fome, pensava extasiado! Entrou no alpendre fronteiriço à casa e percebeu que estava só, porque as janelas estavam encerradas e as duas portas de acesso ao interior tinham o ferrolho passado.
Semi preocupado, clamou pela mãe que não o atendeu, e com aquele terror próprio do receio foi devagar até ao sótão, pois urgia colocar lá o que trouxera de véspera da cidade grande. A entrada naquele quase labirinto foi feliz, porque como estava tudo limpo, à imagem da alma de sua mãe, rápida foi a abertura do saco; todavia o espanto de Daniel não poderia ter sido maior, quando constatou, que o milho estaria só nos seus sonhos e nos seus pensamentos de homem bucólico, ingénuo e simples, e que aquele senhor se atrevera a gozá-lo, ofertando-lhe farinha que, nenhuma falta já fazia, agora que os fritos de Natal já haviam passado.
Preocupado, Daniel tirava com jeito os sacos pequenos para não entornar o produto, quando foi surpreendido por uma voz forte, grossa, feroz «... larga bandido... polícia... estás detido.» A perplexão foi rainha e o terror tomou conta de si.
Desesperado gritava que não havia roubado a farinha, que havia sido um doutor, um senhor rico da aldeia a pedir-lhe que a fosse buscar à cidade grande, dizendo que depois fariam a distribuição pela sua casa e a dele.
Daniel não conseguia explicar-se mais, porquanto a pressão policial era muita. O grito de DROGA suou plangente, e Daniel em vez de vender a alma à justiça dos homens, jogou de mãos a uma forquilha e espetando-a no peito disse a todos, que ia dar de beber ao irmão mais novo, ao Selmo que estava no céu há menos de seis meses, e que lhe pedira tanto aquele copo de água que ele nunca consegui dar.
Agora dar-lhe-ia uma gota de vida e juntos visionariam o mundo onde só os poderosos têm força e são agraciados.
Subscrever:
Mensagens (Atom)