Adriano Bomba foi um aluno brilhante na Escola Industrial, viveu no Bairro do Fomento, na Matola, e jogou futebol, como médio, no Sporting Clube de Lourenço Marques.
A sua fuga de
Moçambique foi organizada pelo seu irmão Boaventura Bomba, ligado aos serviços
secretos sul africanos e aos elementos da comunidade portuguesa na África do Sul que apoiavam a Renamo. Na África do Sul não foi tratado ou considerado como um prisioneiro de guerra, porque a África do Sul não estava em guerra com Moçambique, e foi-lhe concedido asilo político. O MIG 17, que não se encontrava nas melhores condições (um dos canhões estava inoperacional e os pneus estavam completamente degradados), foi devolvido a Moçambique.
O tenente Adriano Bomba a prestar declarações às autoridades sul-africanas
Os sul africanos pediram que os
irmãos Bomba fossem integrados na Renamo e, após muitas pressões. o presidente da Renamo,
Afonso Dhlakama, inicialmente relutante, aceitou a integração.
Pilotos sul-aficanos em pose frente ao Mig-17 de Adriano Bomba
Boaventura Bomba,
já com o cargo de Comissário Político da Renamo, acabou por ser executado num
campo militar sul africano na Namíbia, em circunstâncias pouco esclarecidas; segundo o Brigadeiro sul -africano Van Niekerk
, Orlando Bomba foi acusado pelo assassinato de Orlando Cristina , secretário-geral
da Renamo e foi levado para o Corredor de Caprivi (Namíbia), na altura ainda
sob administração sul-africana, tendo sido submetido a julgamento militar e
executado a bordo de um helicóptero, tendo o seu corpo sido lançado ao mar
ao largo da costa namibiana.
Após a assinatura do Acordo de Romade 1992, Afonso Dhlakama declarou à comunicação social em Maputo que Adriano Bomba “havia morrido” sem adiantar mais pormenores. De acordo com membros da Renamo, Adriano Bomba terá morrido durante uma emboscada.
O que se segue é a transcrição dum extracto das
respostas dadas por Adriano Bomba, depois publicadas pelo jornal sul africano
“Panorama” e replicada por outros meios de comunicação da época.
Pergunta:
O facto de ter trazido consigo um avião MIG I7 representa um acto de guerra particular contra o sistema em Moçambique?
Resposta:
Utilizei o avião como simples meio de transporte, mais nada.
Um meio de transporte mais eficaz. Sei que aquele avião não pode ser utilizado
contra a Frelimo. Porquê? Porque sei que não sou o primeiro piloto que foge de
um país num avião de guerra. Sei que depois disto tudo, o avião irá de volta.
Isto já aconteceu com um piloto soviético que saiu da URSS num MIG-25, aterrou
no Japão e depois seguiu para os Estados Unidos. Depois de ter sido estudado e
todo desmontado, o MIG-25 foi reenviado para a União Soviética.
Pergunta:
Disse que se sentia mais útil a Moçambique fora do país, do
que na situação em que ali se encontrava. Quer ser mais explícito sobre este
aspecto?
Resposta:
Em Moçambique, quando estava a estudar, tinha em mente
tirar um curso, o meu curso. A importância que vejo nele não é unicamente
nacional, resulta da importância que esse curso ocupa no campo científico, e a
ciência para mim não tem nacionalidade. Aquilo que eu pudesse fazer no campo da
ciência poderia beneficiar Moçambique, pelo menos a longo prazo. O facto de não
ter podido segui-lo demonstra que as pessoas em Moçambique não se desenvolvem.
Porquê? Porque não têm o direito de optar. Quando um indivíduo opta, é muito
mais dedicado à sua causa.
Pergunta:
Teria a sua deserção surpreendido os seus camaradas de armas
de Moçambique?
Resposta:
Penso que os meus colegas, principalmente os da Força Aérea,
não se admiraram daquilo que eu fiz, porque os nossos ideais convergem. Mas
tomar a decisão que tomei é coisa que tem muito mais importância e é muito mais
difícil. Este meu acto vai despertar muita gente; tenho consciência de que
muitas mentalidades adormecidas vão despertar por causa deste meu acto.
Pergunta:
Com um acto de ousadia quase agressiva, modificou
subitamente o curso de seu destino. Como antevê o desenrolar desse destino?
Resposta:
Os meus planos são aumentar os meus conhecimentos na África
do Sul.
Pergunta:
Não receia que a sua família em Moçambique esteja agora em
perigo?
Resposta:
Não penso que a minha família esteja em perigo. Porquê?
Porque as autoridades moçambicanas não têm um argumento concreto. O que fiz foi
uma decisão que tomei sozinho, que não partilhei com ninguém.
Pergunta:
Como é do conhecimento geral a República da África do Sul é
alvo de propaganda muitas vezes falaciosa e muito agressiva acerca do sistema
interno do país. Sendo negro, pede asilo político à África do Sul. Porquê?
Resposta:
Eu não vim para a África do Sul para me envolver nas suas
actividades internas. Não estou para me intrometer nos assuntos internos da
África do Sul.
Pergunta:
Não receia as atitudes raciais que provavelmente terá de
enfrentar na África do Sul?
Resposta:
Quando vim para a África do Sul não sabia como é que se
vivia aqui. O que sabia da África do Sul era aquilo que a propaganda
anti-sul-africana dizia. Até fiquei admirado, depois de chegar à África do Sul,
quando saí e vi a maneira como convivem os pretos e os brancos. A realidade
entrava em choque com aquilo que a propaganda lá fora diz. É claro que eu não
sei tudo acerca das relações sociais entre pretos e brancos aqui na África do
Sul, porque pouco ainda vi. Mas o que já vi é a demonstração de que é mentira o
que dizem lá fora.
Pergunta:
Considera-se um exilado político na África do Sul?
Resposta:
Eu pedi residência permanente na África do Sul.
Pergunta:
Faz parte de uma elite de homens bastante reduzida, é um
piloto de caça-bombardeiro. Com a decisão de vir para a África do Sul nestas
circunstâncias, não se ressentirá do facto de não voltar a pilotar o seu
MIG-17?
Resposta:
Eu gosto da minha especialidade. Todo o piloto de
caça-bombardeiro adora a sua especialidade. É algo que entra no sangue.
Gostaria de continuar a voar na qualidade de piloto de caça-bombardeiro.
Pergunta:
Teve medo quando viu um Mirage ao pé do seu MIG-17 ?
Resposta:
Eu tinha visto o Mirage somente em fotografias e sabia que
não era nenhum bicho do outro mundo. Quando vi os Mirages perto de mim, fiquei
mais tranquilo, porque um Mirage perto de um MIG-17 é muito menos perigoso que
um Mirage longe de um MIG-17.
Pergunta:
A sua saída de Moçambique, nas circunstâncias conhecidas,
foi certamente um teste à sua capacidade de imaginação...
Resposta:
Eu preparei o voo. Quando vão voar, os pilotos têm de fazer
um desenho da rota que vão seguir. Eu não ia, com certeza, desenhar uma rota
com descolagem em Maputo e aterragem em Hoedspruít. O voo que desenhei era a
rota normal para atingir o alvo a determinada hora e depois retomar a Maputo.
Mas, claro, dentro do avião fiz outra rota, para sair, passar pelos pontos de
mudança de rota e fazer a aterragem em Hoedspruít. Mas tudo isso foi só dentro
da minha cabeça.
Pergunta:
Encontrando-se na República da África do Sul há cerca de dez
dias, será tempo suficiente para poder avaliar se terá tomado uma decisão
correcta?
Resposta:
Que tomei a decisão correcta, isso eu concluí ainda em
Moçambique. Por tal razão vim para aqui. Agora não tenho dúvidas nenhumas.
Fontes e Bibliografia
Extensão trechos deste artigo foram publicados no livro
"Africano MiGs", Publicações SHI, Viena (Áustria), 2004 (ISBN:
3-200-00088-0).
Excepto para pesquisas e materiais gentilmente cedidos pelo
contribuinte no forum ACIG.org, especialmente ao Sr. Pit Weinert, as seguintes
fontes de referência foram utilizados:
- "ABLAZE continente, as guerras em África Insurgency,
1960 to the Present", de John W. Turner, ISBN 1-85409-128-X, Imprensa da
armadura e armas, 1998
- "GUERRAS AFRICANAS: ANGOLA E MOÇAMBIQUE
1961-1974" Osprey "homens de armas" Serie No.202, pela Abbott
Pedro e Manuel Rodriguez, Osprey 1988, 1989, 1995.
- "GUERRAS AFRICANO MODERNA 3: WEST-ÁFRICA DO SUL"
Osprey "homens de armas" Serie No.242, por Römer-Helmoed Heitman e
Hannon Paulo, Osprey 1991.
- "O Mundo em conflito; guerra contemporânea, por John Laffin, Brassey, 1996 (ISBN:
1-85753-196-5)
- "Guerras aéreas e aeronaves; um registo detalhado de
Combate Aéreo, 1945 to the Present", de Victor Flintham, Armas e Armour
Press, 1989
- "Der flugzeuge NVA in Afrika", por Jürgen Roske,
Fliegerrevue 6 / 92 (revista alemã), 1992
A morte lhe foi merecida porque ele pensou muito pouco antes de tomar a decisão,Afonso Delhakama lhe deu de traidor e mandou lhe fuzilar
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