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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

A Arte Maconde

 

A Arte Maconde (Tânzania / Moçambique)

Os macondes são um grupo étnico bantu que vive no sudeste da Tanzânia e no nordeste de Moçambique, principalmente no planalto de Mueda e Muidumbe, tendo uma pequena presença no Quénia. Um povo valente e guerreiro que sempre resistiu às tentativas de conquista tanto de outros povos africanos, como dos árabes e traficantes de escravos. Aceitaram a subjugação colonial portuguesa apenas nos anos vinte do século XX.


A arte dos macondes é multiforme, como na maioria dos povos, mas é conhecida internacionalmente pela escultura em madeira. Na região de onde os macondes são originários, no nordeste de Moçambique e sueste da Tanzânia, é conhecida também pela música e dança e pelos entrançados de palha, com que fazem belas esteiras, cestos e outros adereços para o lar.

A escultura maconde mais conhecida é feita em pau-preto, a madeira das árvores da espécie "Dalbergia melanoxylon", também conhecidas internacionalmente pelo nome swahili “mpingo”. 

Estas esculturas têm três estilos principais:

1: ”Shetani”,que significa “demónio”, são esculturas de figuras humanoides ou animais muito estilizadas;

Máscara Shetani

2. ”Ujamaa”,que significa família ou união, e são formadas por uma quantidade de pessoas, pelos seus instrumentos de trabalho e, por vezes, animais domésticos, artisticamente unidos, incluindo imagens humanas ou de animais ou ainda, por influência da colonização, de imagens religiosas, como crucifixos e imagens de Cristo ou de Nossa Senhora.

Escultura Ujamaa

3. Um outro tipo de escultura, mas com outro significado cultural são as máscaras “Mapico”, tradicionalmente usadas nas cerimónias finais e públicas dos ritos de iniciação masculina. Estas máscaras são normalmente feitas com uma madeira leve e clara, muitas vezes da sumaúma brava, amplamente ornamentadas com panos e penas, e são colocadas sobre a cabeça do dançarino, de modo que ele consiga olhar pela boca da máscara. As cabeças são de animais ou pessoas, complementadas com pelos ou cabelo naturais, e podem caricaturar personagens conhecidas da comunidade, incluindo dirigentes ou antigos colonos ou militares.

Máscara Mapiko

De nacionalidade tanzaniana, um dos artistas macondes mais conhecidos na Europa foi George Lilanga, escultor e pintor.


Sobre as Máscaras Macondes

As máscaras Macondes são motivo de grande interesse por parte de coleccionadores e estão expostas em vários museus da Europa e Moçambique. São consideradas a melhor representação da arte da escultura em madeira, nativa Moçambicana, feita pelos Macondes.

A máscara Lipiko é esculpida para o ritual do Mapiko-dança. É executada em madeira leve, pelos escultores ou homens velhos da aldeia, feitas no Mpolo, pequena casa destinada para o efeito, longe de todos os olhares.


Para a dança, o Mapiko ou dançarino enfia a máscara, de maneira a ficar com a cabeça tapada e com o rasgo da boca à altura dos olhos. À volta do pescoço, um pano colorido de seda tapa o bordo da máscara, conjugando uma indumentária complexa que procura esconder todo o corpo do dançarino, não permitindo revelar a sua identidade.

Esta impressionante dança cheia de força, expressividade e misticismo, num ambiente de euforia ao som de cânticos estridentes e tambores, é executada nas principais festas e cerimónias da aldeia e, sobretudo, nos ritos de iniciação dos jovens e das mulheres, que têm por objetivo integrar o indivíduo no seu novo grupo social. Entre os macondes, os ritos de passagem envolvem toda a população, e estão presentes no nascimento, puberdade, casamento e morte.

As máscaras dos macondes traduzem os antigos usos, costumes, tradições e superstições. São de grande interesse etnográfico e revelam a identidade do povo maconde.

terça-feira, 16 de março de 2021

OS CANALHAS QUE CONTINUAM A GLORIFICAR O SAMORA ´´ASSASSINO`` MACHEL

  


OS CANALHAS QUE CONTINUAM A GLORIFICAR O SAMORA ´´ASSASSINO`` MACHEL, COMO SENDO O VERDADEIRO LIBERTADOR DA PÁTRIA, SÃO OS MESMOS QUE HOJE, 24 ANOS APÓS UMA TRÉGUA SABOTADA, COLOCAM O PAÍS EM COLAPSO

Eles não falam da miséria que incutem ás famílias Moçambicanas, mas quando são solicitados para se pronunciarem sobre o retardado do Samora ´´kichwa ya maji``Machel, fazem-no de uma forma tão artificial e bajuladora, que só continuam a enganar aos mais ignorantes sobre o tema. Aquele ser abominável que tive o infortúnio de conhecer e conviver, no campo de treinos militar de Kongwa no então Tanganyika em Março de 1965, já lá vão 51 anos, não passava de um miserável completamente extasiado no seu poderoso fumo de recalcamentos e maldade, que fez questão de semear nas mentes de milhões de Moçambicanos, durante o infeliz tempo que passou no mundo dos mortais.


Tenho inúmeros episódios para contar sobre a vida de Samora Machel, mas hoje vou apenas relembrar algumas verdades continuamente omitidas no seio da boçalidade Frelimista sobre Samora. Esse homem que sempre se vangloriou de ter combatido ferozmente o colonialismo Português, na verdade só o fazia em seus sonhos, porque o verdadeiro trabalho de HOMEM, deixava-o para os valentes, enquanto ele se mantinha em Nachingwea a brincar com as meninas e ´´ALGUNS MENINOS``. Aquele ser de fraca figura, nunca se fez presente em nenhum combate contra às tropas Portuguesas, e nem sequer sabia como se organizava uma simples emboscada...um verdadeiro inútil manipulador.


Os dez anos que tive de vivência na Frelimo, deram-me muita experiência e calo de vida, pois lidei com todo o tipo de pessoas dos vários cantos de Moçambique, de onde retirei boas e más lições de vida. Nessa minha longa caminhada, fui obrigado a conviver com dois matadores Moçambicanos vindos de partes distintas do nosso País, que viriam a criar a aliança Makonde-Shangane da matança, um proveniente do Sul do rio Save, e o outro proveniente do planalto dos Makondes no Norte do País, onde ambos mantinham o mesmo modus operandi na criação de terror: são eles, Samora Moisés Machel, o aprendiz de enfermeiro, e Alberto ´´Ignorante`` Chipande, que foi o primeiro e único comandante da Frelimo que eu tenha conhecimento, que teve a coragem de assassinar o seu próprio pai, Joaquim Chipande, acusando-o de ser agente informador do Colono e isto tudo para dar uma prova de lealdade à hegemonia Sulista boçaloide Comunista.



Quando me deparo com um dos maiores delatores do nosso povo, Joaquim ´´TZOM`` Chissano, a falar para a STV, sobre o legado do maior criminoso da nossa história, só me dá vómitos. Não é que o traficante Chissano tem a ousadia de dizer que foi Samora a criar o Destacamento Feminino da Frelimo!!! Que grande MENTIRA...,pois foi Filipe Samuel Magaia, que autorizou a participação feminina nas Forças Populares de Libertação de Moçambique “FPLM”. Samora Machel, quando tomou de assalto a Defesa do partido, após assassinar o seu superior e chefe Filipe Magaia, a sua primeira grande acção no seio do Destacamento Feminino, foi violar e engravidar a chefe desse Destacamento, a camarada Josina Muthemba, que por sua vez era a ´´viúva`` e companheira de Magaia. Hoje, o cínico Chissano, vai omitindo estes acontecimentos para entretenimento da carneirada Frelimista, esquecendo-se de dizer que o camarada Samora só assumiu a sua responsabilidade perante Josina, porque o ´´antigo`` Comité Central da Frelimo, assim o deliberou, pois o seu pai Sansão Muthemba, era um homem respeitado e de extrema confiança de Eduardo Mondlane. Mais tarde, Josina viria a ser envenenada pelo próprio Samora, perdendo a vida no hospital de Muhimbiri em Dar-es-Salaam.


Porque é que Chissano omite, que foi á União Soviética pela segunda vez em 1966 para aquele especial treino de assassinato de Mondlane, que viria a dar frutos em 1969!!?? Quando diz que a defesa e segurança da Frelimo foi separada antes da morte de Magaia....MENTIRA, a coisa só se concretizaria depois de Samora e Chissano assassinarem Magaia, para assim dar continuidade à sua ascensão meteórica dentro do partido até o tomarem na totalidade em 1969.


Após a matança de Eduardo Mondlane, conseguiram afastar Uria Simango, também por eles assassinado, e todos os outros membros Chingondos de relevo, com poder de decisão no Comité Central, para assim deliberarem a sucessão de Mondlane sem oposição, e  manterem a hegemonia sulista.
Após a Independência, Samora deu primazia na criação de amizades com a mesma linha opressora e acelerou a perseguição aos seus inimigos ´´RESISTENTES``. Mas o que o viria a matar, vinha de dentro ... provando da semente que ele próprio Samora, plantara, uns anos antes.


Uma certa senhora fala dos valores e princípios que Samora implementou...quais???? DAQUELES QUE ACABEI DE ESCREVER!!??? De facto o homenzinho tinha um carisma imenso naquilo que sabia fazer melhor...mandar MATAR E SONHAR.
O maior contributo que Samora deixou na nossa sociedade foi de facto o separatismo nacional, opressão tribal e as demais, mono partidarismo, racismo, já para não falar nos campos de reeducação, nos julgamentos populares, nos fuzilamentos (a que até Chissano assistiu), nas guias de marcha e muito,... muito mais. ...Amnésias???...claro que não, apenas as manipulações do costume de um ser também ele abominável, calculista, frio e grande assassino do regime Frelimista.


Um momento de reflexão ... será que os Moçambicanos se dão conta que a eleição do ´´Gomate wa Zaurinha`` por parte do ´´CC`` foi uma jogada de mestre dos sulistas ??? Para os magazas era importante darem a vez aos Makondes facilmente manipuláveis, com o intuito de os sabotar, como estão a fazer agora, precisamente para que em 2019 ponham lá outro presidente do sul e acabar de uma vez com as pretensões Makondes. Lembram-se de ouvir dizer, que Nyusi seria um presidente de um só mandato??? Neste momento os clãs dentro da Frelimo guerreiam-se silenciosamente para se sabotarem uns aos outros, nesta guerra não declarada aos incansaveis RESISTENTES. Os Makondes neste momento lutam contra o tempo, e matar DHLAKAMA é primordial para que eles se mantenham no topo do partido dando um chega para lá aos sulistas que lhes querem fazer a cama.
Por isso os Esquadrões da Morte trabalham a todo vapor, comandados por Alberto Chipande, Nyusi e a sua canalhada do costume como: Raimundo Pachinuapa, Salvador N'tumuke, Lagos Lidímu, entre outros.


Amigos, aqui temos três pilha-galinhas a disputar o poleiro da capoeira boçal Frelimista... Guebas, Chissano e Chipande....atenção que já sabemos que todos são criminosos, mas tenham especial atenção no maior calculista de todos os tempos do nosso País, o grande traidor JOAQUIM CHISSANO.



Meus irmãos Moçambicanos, relembro-vos em consciência, a todos os resistentes a este regime sanguinário inconsequente, que enquanto as chefias radicais assassinas desse partido Frelimo não forem capturadas e encarceradas, o povo não terá liberdade e haverá sempre alguém para enviar os ``cães de caça do regime`` para vos perseguir, agredir e eliminar.
FUNGULANI MASSO, lembrem-se bem, QUEM NÃO LUTA PERDE SEMPRE, A LUTA É CONTÍNUA.



Zeca Caliategeneral Chingòndo, um dos sobreviventes da Teia do mal Frelimo.

Europa, 30 de Outubro de 2016




sábado, 10 de agosto de 2019

Tenente Adriano Francisco Bomba, piloto da Força Aérea de Moçambique



Em 8 de Julho de 1981, o tenente Adriano Francisco Bomba, piloto da Força Aérea de Moçambique, a bordo de um avião MIG-17, penetrou no espaço aéreo da República da África do Sul, foi escoltado por caças sul-africanos Mirage até aterrar na Base Aérea de Hoedspruit, cerca de 320 quilómetros a nordeste de Pretória, onde solicitou autorização de residência. Dias depois o tenente Bomba concedeu uma conferência de imprensa na base da Força Aérea Sul-Africana de Hoedspruit, onde explicou as razões da sua atitude. 

Adriano Bomba foi um aluno brilhante na Escola Industrial, viveu no Bairro do Fomento, na Matola, e jogou futebol, como médio, no Sporting Clube de Lourenço Marques.




A sua fuga de Moçambique foi organizada pelo seu irmão Boaventura Bomba, ligado aos serviços secretos sul africanos e aos elementos da comunidade portuguesa na África do Sul que apoiavam a Renamo. Na África do Sul não foi tratado ou considerado como um prisioneiro de guerra, porque a África do Sul não estava em guerra com Moçambique, e foi-lhe concedido asilo político. O MIG 17, que não se encontrava nas melhores condições (um dos canhões estava inoperacional e os pneus estavam completamente degradados), foi devolvido a Moçambique.


O tenente Adriano Bomba a prestar declarações às autoridades sul-africanas


Os sul africanos pediram que os irmãos Bomba fossem integrados na Renamo e,  após muitas pressões. o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, inicialmente relutante, aceitou a integração.


Pilotos sul-aficanos em pose frente ao Mig-17 de Adriano Bomba


Boaventura Bomba, já com o cargo de Comissário Político da Renamo, acabou por ser executado num campo militar sul africano na Namíbia, em circunstâncias pouco esclarecidas;  segundo o Brigadeiro sul -africano Van Niekerk , Orlando Bomba foi acusado pelo assassinato de Orlando Cristina , secretário-geral da Renamo e foi levado para o Corredor de Caprivi (Namíbia), na altura ainda sob administração sul-africana, tendo sido submetido a julgamento militar e executado a bordo de um helicóptero, tendo o seu corpo sido lançado ao mar ao largo da costa namibiana.

Após a assinatura do Acordo de Romade 1992, Afonso Dhlakama declarou à comunicação social em Maputo que Adriano Bomba “havia morrido” sem adiantar mais pormenores. De acordo com membros da Renamo, Adriano Bomba terá morrido durante uma emboscada.

O que se segue é a transcrição dum extracto das respostas dadas por Adriano Bomba, depois publicadas pelo jornal sul africano “Panorama” e replicada por outros meios de comunicação da época.


Pergunta:
O facto de ter trazido consigo um avião MIG I7 representa um acto de guerra particular contra o sistema em Moçambique?

Resposta:
Utilizei o avião como simples meio de transporte, mais nada. Um meio de transporte mais eficaz. Sei que aquele avião não pode ser utilizado contra a Frelimo. Porquê? Porque sei que não sou o primeiro piloto que foge de um país num avião de guerra. Sei que depois disto tudo, o avião irá de volta. Isto já aconteceu com um piloto soviético que saiu da URSS num MIG-25, aterrou no Japão e depois seguiu para os Estados Unidos. Depois de ter sido estudado e todo desmontado, o MIG-25 foi reenviado para a União Soviética.

Pergunta:
Disse que se sentia mais útil a Moçambique fora do país, do que na situação em que ali se encontrava. Quer ser mais explícito sobre este aspecto?

Resposta:
Em Moçambique, quando estava a estudar, tinha em mente tirar um curso, o meu curso. A importância que vejo nele não é unicamente nacional, resulta da importância que esse curso ocupa no campo científico, e a ciência para mim não tem nacionalidade. Aquilo que eu pudesse fazer no campo da ciência poderia beneficiar Moçambique, pelo menos a longo prazo. O facto de não ter podido segui-lo demonstra que as pessoas em Moçambique não se desenvolvem. Porquê? Porque não têm o direito de optar. Quando um indivíduo opta, é muito mais dedicado à sua causa.

Pergunta:
Teria a sua deserção surpreendido os seus camaradas de armas de Moçambique?

Resposta:
Penso que os meus colegas, principalmente os da Força Aérea, não se admiraram daquilo que eu fiz, porque os nossos ideais convergem. Mas tomar a decisão que tomei é coisa que tem muito mais importância e é muito mais difícil. Este meu acto vai despertar muita gente; tenho consciência de que muitas mentalidades adormecidas vão despertar por causa deste meu acto.

Pergunta:
Com um acto de ousadia quase agressiva, modificou subitamente o curso de seu destino. Como antevê o desenrolar desse destino?

Resposta:
Os meus planos são aumentar os meus conhecimentos na África do Sul.

Pergunta:
Não receia que a sua família em Moçambique esteja agora em perigo?

Resposta:
Não penso que a minha família esteja em perigo. Porquê? Porque as autoridades moçambicanas não têm um argumento concreto. O que fiz foi uma decisão que tomei sozinho, que não partilhei com ninguém.

Pergunta:
Como é do conhecimento geral a República da África do Sul é alvo de propaganda muitas vezes falaciosa e muito agressiva acerca do sistema interno do país. Sendo negro, pede asilo político à África do Sul. Porquê?

Resposta:
Eu não vim para a África do Sul para me envolver nas suas actividades internas. Não estou para me intrometer nos assuntos internos da África do Sul.

Pergunta:
Não receia as atitudes raciais que provavelmente terá de enfrentar na África do Sul?

Resposta:
Quando vim para a África do Sul não sabia como é que se vivia aqui. O que sabia da África do Sul era aquilo que a propaganda anti-sul-africana dizia. Até fiquei admirado, depois de chegar à África do Sul, quando saí e vi a maneira como convivem os pretos e os brancos. A realidade entrava em choque com aquilo que a propaganda lá fora diz. É claro que eu não sei tudo acerca das relações sociais entre pretos e brancos aqui na África do Sul, porque pouco ainda vi. Mas o que já vi é a demonstração de que é mentira o que dizem lá fora.

Pergunta:
Considera-se um exilado político na África do Sul?

Resposta:
Eu pedi residência permanente na África do Sul.

Pergunta:
Faz parte de uma elite de homens bastante reduzida, é um piloto de caça-bombardeiro. Com a decisão de vir para a África do Sul nestas circunstâncias, não se ressentirá do facto de não voltar a pilotar o seu MIG-17?

Resposta:
Eu gosto da minha especialidade. Todo o piloto de caça-bombardeiro adora a sua especialidade. É algo que entra no sangue. Gostaria de continuar a voar na qualidade de piloto de caça-bombardeiro.

Pergunta:
Teve medo quando viu um Mirage ao pé do seu MIG-17 ?

Resposta:
Eu tinha visto o Mirage somente em fotografias e sabia que não era nenhum bicho do outro mundo. Quando vi os Mirages perto de mim, fiquei mais tranquilo, porque um Mirage perto de um MIG-17 é muito menos perigoso que um Mirage longe de um MIG-17.

Pergunta:
A sua saída de Moçambique, nas circunstâncias conhecidas, foi certamente um teste à sua capacidade de imaginação...

Resposta:
Eu preparei o voo. Quando vão voar, os pilotos têm de fazer um desenho da rota que vão seguir. Eu não ia, com certeza, desenhar uma rota com descolagem em Maputo e aterragem em Hoedspruít. O voo que desenhei era a rota normal para atingir o alvo a determinada hora e depois retomar a Maputo. Mas, claro, dentro do avião fiz outra rota, para sair, passar pelos pontos de mudança de rota e fazer a aterragem em Hoedspruít. Mas tudo isso foi só dentro da minha cabeça.

Pergunta:
Encontrando-se na República da África do Sul há cerca de dez dias, será tempo suficiente para poder avaliar se terá tomado uma decisão correcta?

Resposta:
Que tomei a decisão correcta, isso eu concluí ainda em Moçambique. Por tal razão vim para aqui. Agora não tenho dúvidas nenhumas.


Fontes e Bibliografia

Extensão trechos deste artigo foram publicados no livro "Africano MiGs", Publicações SHI, Viena (Áustria), 2004 (ISBN: 3-200-00088-0).
Excepto para pesquisas e materiais gentilmente cedidos pelo contribuinte no forum ACIG.org, especialmente ao Sr. Pit Weinert, as seguintes fontes de referência foram utilizados:
- "ABLAZE continente, as guerras em África Insurgency, 1960 to the Present", de John W. Turner, ISBN 1-85409-128-X, Imprensa da armadura e armas, 1998
- "GUERRAS AFRICANAS: ANGOLA E MOÇAMBIQUE 1961-1974" Osprey "homens de armas" Serie No.202, pela Abbott Pedro e Manuel Rodriguez, Osprey 1988, 1989, 1995.
- "GUERRAS AFRICANO MODERNA 3: WEST-ÁFRICA DO SUL" Osprey "homens de armas" Serie No.242, por Römer-Helmoed Heitman e Hannon Paulo, Osprey 1991.
- "O Mundo em conflito; guerra contemporânea, por John Laffin, Brassey, 1996 (ISBN: 1-85753-196-5)
- "Guerras aéreas e aeronaves; um registo detalhado de Combate Aéreo, 1945 to the Present", de Victor Flintham, Armas e Armour Press, 1989
- "Der flugzeuge NVA in Afrika", por Jürgen Roske, Fliegerrevue 6 / 92 (revista alemã), 1992



domingo, 24 de maio de 2009

O ACIDENTE DE MBUZINI (A morte de Samora Machel)

por Luís Brito Dias *1



*2 Sérgio Vieira Ordenou aos Pilotos da LAM que se "Mantivessem Calados"
Li com muita atenção as declarações do Sr. Sérgio Vieira a respeito do desastre de Mbuzini (jornal O País, 15 de Agosto de 2008), assunto que me interessa sobremaneira, pois trabalhei em Moçambique como piloto da DETA /LAM durante 17 anos. Presentemente trabalho no Extremo Oriente como comandante de uma transportadora aérea, pilotando aviões do tipo Boeing 747-400. É evidente que o Sr. Sérgio Vieira mente descaradamente pois ele era na altura do acidente o Ministro da Segurança, portanto com responsabilidade no que veio a acontecer. Samora teve uma morte inglória e claro que ele também foi o responsável pelo que aconteceu pois entregou a sua própria vida nas mãos de pilotos que revelaram desleixo, negligência e incúria. Todos os pilotos que voavam na LAM na altura sabem perfeitamente que o acidente de Mbuzini deveu-se a negligência e incúria por parte da tripulação técnica. Aliás, após o acidente, o Sr. Sérgio Vieira fez chegar aos pilotos da LAM a mensagem, tipo ameaça bem clara, para se manterem calados e não abrirem a boca. Foi por essa razão que nenhum Comandante foi nomeado para fazer parte da comissão de inquérito. O único que foi nomeado foi um co-piloto da LAM, que tinha sido da Força Aérea e era membro do Partido Frelimo, e por isso facilmente controlável. Este co-piloto começou a ver a nojeira que era a Comissão de Inquérito e arranjou maneira de se baldar rapidamente pois em consciência não podia participar na deturpação da verdade. Os pilotos soviéticos além de terem pouca experiência, voavam muito pouco e as licenças de voo que foram apresentadas no inquérito são falsas. Foram emitidas posteriormente.
Na altura eu era co-piloto do DC-10 da LAM, e num voo de Lisboa para Maputo, juntamente com o Comandante, demonstrámos a Mariano Matsinhe e a outro ministro da Frelimo que seguiam a bordo, o que realmente tinha acontecido. Eles foram nossos convidados no cockpit. Até fizemos a viragem ou mudança de rumo inicial, bem como a manipulação errada dos selectores de instrumentos de navegação para lhes mostrar o que se passara na noite no desastre de Mbuzini. Para além de não trazerem combustível de reserva o que aconteceu foi que dos 5 tripulantes no cockpit, 3 estavam entretidos a dividir e a tomar os restos das bebidas alcoólicas que iriam sobejar até 6 minutos antes do impacto final. Só o co-piloto e o navegador é que estavam a tomar "conta" do voo. Tudo isto está registado na transcrição do CVR (Cockpit Voice Recorder).
O Comandante só se apercebeu que estavam perdidos 3 minutos antes do impacto final. A desorientação era tal que nem ligaram nenhuma ao aviso sonoro (GPWS) que o avião ia bater no chão sem estar na configuração de aterragem. Quebraram muitas regras básicas de "ouro" da aviação, mas a mais importante foi terem chegado à "Altitude de Segurança", publicada para Maputo, que é de 3 000 pés, e continuarem a descer sem terem contacto visual com o solo ou, em alternativa, indicação electrónica correcta dos equipamentos de navegação de Maputo. Neste caso, o ILS ou o VOR de Maputo.

Tupolev 134 - o avião presidencial destruído no acidente

O que sucedeu foi que eles em vez de seleccionarem o ILS de Maputo (110.3) enganaram-se e seleccionaram o VOR de Matsapa (112.3) e desviaram-se de rota para a Radial 045 de Matsapa em vez de estarem na Radial 045 do VOR de Maputo. O navegador do Tupolev enganou-se, pois no sistema russo quem selecciona as rádio-ajudas são os navegadores e não os pilotos. Ele já vinha com o VOR de Maputo seleccionado (112.7), mas ao mudar de frequência para o ILS de Maputo (110.3) que é uma rádio-ajuda de aproximação à pista e não de navegação em rota, cometeu o erro fatal. Os selectores dos dígitos decimais são independentes dos dígitos das centenas. Ou seja, primeiro teria que mudar de 112 para 110 e depois de 0.7 para 0.3 com um selector independente. O que aconteceu foi que ele deixou ficar o 112 e só alterou de 0.7 para 0.3 o que veio a coincidir com a frequência do VOR de Matsapa. Foi esta manipulação errada de sistemas que levou a tripulação a fazer uma viragem de rota. Como estavam "distraídos" no cockpit não houve ninguém que verificasse as manipulações dos selectores de frequência. Uma das regras básicas é que sempre que se muda qualquer coisa no cockpit essa acção tem que ser verificada e aceite pelo outro piloto.

Nada disso foi feito. Estas foram as causas imediatas do acidente, mas houve outros factores que também contribuíram, tais como a fadiga da tripulação, a falta de combustível, a inactividade prolongada da tripulação, a falta de verificações de simulador de voo, etc. Um acidente de aviação nunca acontece por si só. É sempre um acumular de eventos que vão culminar num fim trágico. Não querendo ser arrogante, mas a minha experiência de 31 anos de aviação bem como a participação em inquéritos de acidentes aeronáuticos deixam-me perfeitamente à vontade para falar destas situações.

Depois de tantos anos de poder do ANC na África do Sul, e apesar de muita investigação por parte das novas autoridades sul-africanas, quer a nível da Comissão da Verdade e da Reconciliação, quer a nível da polícia mandatada pelo Presidente Thabo Mbeki há mais de dois anos, não foi encontrado qualquer vestígio de tentativa de interferência no voo por parte das autoridades sul-africanas do anterior regime. As teorias conspiracionistas voltaram-se então para supostos mentores internos, o que é muito duvidoso e sem cabimento. Os factos falam por si...
Notícia original em: ZAMBEZE - Maputo, 28 de AGOSTO de 2008 pag. 2


Em declarações posteriores à publicação do seu artigo, o Comandante Luís Brito Dias referiu que "a primeira indicação para nos mantermos calados foi dada verbalmente pelo então director das LAM, que nos avisou claramente de onde vinham as instruções.” Luís Dias acrescenta que “a outra vez foi numa discussão privada com uma pessoa muito chegada a Sérgio Vieira que até nos disse, num tom ainda mais ameaçador, que se nós (pilotos da LAM ) continuássemos a falar, acabaríamos presos." O Comandante Dias refere que "nessa conversa até estavam presentes outros dois pilotos da LAM que ficaram estupefactos com o tom da ameaça."
Houve ainda uma outra ameaça nesse sentido, vinda de um dos membros da Comissão de Inquérito moçambicana", acrescentou a fonte.
Avisos idênticos foram transmitidos a todo o pessoal do Aeroporto de Maputo e da Aeronáutica Civil. Os primeiros indícios da mão pesada da segurança moçambicana, após o acidente de Mbuzini, reflectiram-se na Torre de Controlo do Aeroporto, em que o controlador de tráfego aéreo de serviço na noite do acidente viria a ser detido. Igualmente presos pelo Snasp foram funcionários ligados à área da meteorologia por terem contactado o Aeroporto Internacional de Joanesburgo para uma actualização do estado do tempo. O pedido a Joanesburgo foi feito depois do Comandante Sá Marques, do voo TM103 da LAM, vindo da Beira, ter informado a Torre de Controlo de Maputo de que não poderia continuar por mais tempo em espera e que uma alternativa seria desviar o seu voo para a capita sul-africana uma vez que não era possível aterrar em Maputo. O voo TM103 acabou por ser desviado para a Beira no meio de grande pandemónio no interior da Torre de Controlo do Aeroporto de Maputo em que agentes do Ministério da Segurança ficaram alarmados por se ter dado a conhecer à África do Sul que algo de anormal se estava a passar.

*1 Luís Brito Dias é ex-piloto da DETA/LAM. Presentemente é comandante de aeronaves B-747 400 ao serviço duma transportadora do Extremo Oriente


*2 Sérgio Vieira é irmão do conhecido José Luis Castelo Branco
Local de nascimento -Tete (centro de Moçambique)
Estado civil - casado Filhos - quatro
Formação académica - licenciado em Ciências Políticas na Universidade de Argel (Argélia), em 1967; estudou Direito na Fa­culdade de Direito de Lisboa entre 1959 e 61; estudou Direito na Universidade de Paris entre 1961 e 63; fez estudos políticos no Colege d'Europe (Bélgica) em 1962.
Actividades políticas e profissionais - antigo comba­tente na luta de libertação de Moçambique; director do gabine­te do Presidente Samora Machel (1975/77); governador do Ban­co de Moçambique (1978/81); ministro da Agricultura (1982/83); governador do Niassa (1983/84); vice-ministro da Defesa (1983/84); ministro da Segurança (1984/87); professor na Universidade Eduardo Mondlane (desde 1987); director do Gabinete de Estudos Africanos (1987/92); escritor; consultor em Ciências Sociais; investigador científico do Centro de Es­tudos Africanos da UEM; membro da Organização Nacional de Professores; Organização da Juventude Moçambicana; Asso­ciação de Escritores Moçambicanos; director do Projecto do Vale de Zambeze (desde 2001); membro do Comité Central da Frelimo; deputado nas legislaturas 94/99 pelo círculo eleitoral do Tete pela bancada da Frelimo; deputado; mem­bro da comissão permanente da Assembleia da República; coronel na reserva.