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quarta-feira, 14 de abril de 2021

Escravatura branca no século XVII

* OS ESCRAVOS BRANCOS ESQUECIDOS *

Mais de 1 milhão de europeus foram escravizados por traficantes árabes de escravos entre 1530 e 1780, uma época marcada por uma abundante pirataria costeira no Mediterrâneo e Atlântico. 

Embora o número seja pequeno, comparando com o total de escravos africanos negros levados para as Américas ao longo de 400 anos (entre 10 milhões e 12 milhões), o comércio de escravos brancos era bem maior do que sempre se pensou e teve um impacto significativo sobre a população branca da Europa.

Uma das coisas que o público e muitos especialistas tendem a dar como certa é que a escravidão sempre foi de natureza racial, ou seja, que apenas os negros foram escravos, o que não corresponde à realidade -  ser escravizado era uma possibilidade real para qualquer pessoa que viajasse pelo Mediterrâneo ou que habitasse o litoral de países como Itália, França, Espanha ou Portugal, ou até mesmo países mais ao norte, como o Reino Unido e Islândia.


Centenas de milhares de irlandeses (homens, mulheres e crianças) foram escravizados e transportados como animais em navios britânicos com destino às Américas.

Sempre que se revoltavam ou desobedeciam eram punidos da maneira mais severa. Os proprietários de escravos penduravam as suas propriedades humanas pelas mãos e queimavam-lhes as mãos ou os pés como forma de punição - muitos foram queimados vivos e as cabeças colocadas em lanças no mercado como um aviso para os outros escravos.

O rei da Escócia, Jaime VI (rei da Inglaterra a partir de 1603) e o seu filho Carlos I de Inglaterra  fizeram um esforço contínuo para escravizar os irlandeses. Oliver Cromwell, militar e líder político inglês, que comandou a campanha inglesa na Irlanda, foi um dos fiéis seguidores da política de escravização e genocídio do povo  irlandês.

O comércio de escravos irlandês começou quando Jaime VI vendeu 30.000 prisioneiros irlandeses como escravos para o Novo Mundo - na Proclamação de 1625 exigia que os prisioneiros políticos irlandeses fossem enviados para o exterior e vendidos a colonos ingleses nas Índias Ocidentais.

Em meados dos anos 1600, os irlandeses eram os principais escravos vendidos para as ilhas de Antígua e Montserrat - na época, 70% da população de Montserrat eram escravos irlandeses.

A Irlanda tornou-se, na época, a maior fonte de gado humano para os comerciantes ingleses - a maioria dos primeiros escravos do Novo Mundo era, na verdade, de raça branca.

De 1641 a 1652, mais de 500.000 irlandeses foram mortos pelos ingleses e outros 300.000 foram vendidos como escravos, fazendo com que a população da Irlanda caísse de 1.500.000 para 600.000 numa década.

Como os ingleses não permitiam que os pais irlandeses escravizados levassem esposas e filhos, a consequência imediata foi a criação de uma população sem tecto, pobre e desamparada que mendigava pelas ruas A solução encontrada pelos ingleses foi leiloá-los também como escravos. 

Na década de 1650, mais de 250.000 mulheres e crianças irlandesas entre 10 e 14 anos foram  vendidas como escravas para as Índias Ocidentais, Barbados, Virgínia e Nova Inglaterra.

Actualmente evita-se chamar escravos irlandeses, utilizando-se termos como "Servidores contratados” para se descrever aquilo por que passaram os  irlandeses, que nada mais eram do que escravos transportados como gado humano.

Nesse período o  comércio de escravos em África estava no seu início - e os escravos negros, que eram bem mais caros e mais bem tratados que os escravos irlandeses. Em 1685 o preço médio de um escravo negro era de 50 libras e os irlandeses apenas 5 libras - Se um fazendeiro chicoteasse, marcasse ou matasse um escravo irlandês, não era crime, mas a morte de um escrava negro era punida com pesadas multas.

Os esclavagistas ingleses usavam as mulheres irlandesas tanto para seu próprio prazer como para a obtenção de lucros - os filhos das escravas, também escravos, aumentavam a riqueza do seu proprietário.

Como forma de aumentarem a riqueza e o lucro, os colonos ingleses começaram a cruzar mulheres e meninas irlandesas (até os 12 anos) com escravos negros para obterem escravos com uma aparência distinta - os novos escravos “mulatos” conseguiam sempre um preço bastante mais elevado que o gado irlandês.


A prática do cruzamento de fêmeas irlandesas com homens negros foi largamente difundida e manteve-se durante várias décadas, até que foi aprovada uma lei em 1681 que proibia "o acasalamento  de mulheres escravas irlandesas com escravos negros", pois a esta prática prejudicava os lucros das empresas que procediam ao transporte de escravos (a maior empresa era a Royal African Company)

A Inglaterra continuou a enviar dezenas de milhares de escravos irlandeses durante mais de um século - após a Revolução Irlandesa de 1798, milhares de escravos irlandeses foram vendidos para a América e  Austrália, sempre em condições horríveis e sub-humanas.

Em 1839 a Grã-Bretanha parou finalmente de escravizar e transportar irlandeses, ainda que, durante muitos mais anos, o processo tenha continuado nas mãos de piratas que não se submetiam às leis dos países. 

FONTE: Canada Libre Propulsé par WordPress.com.